Peças - Revista ShowRoom número 198 - Julho 2003

100% de visibilidade

A Internet alterou definitivamente a forma de fazer negócios no setor automotivo.Montadoras investem para interligar com eficiência toda a cadeia de produção. Na ponta do varejo, apostam em estratégias de venda on-line para fisgar o consumidor. Não tanto pelo volume mas pelo valor, as transações de veículos pela Internet corresponderam a 62,54% do total de varejo on-line em abril. Montadoras e concessionárias registraram vendas de R$ 230,6 milhões, uma receita menor que os R$ 262,6 milhões resultantes das transações on-line realizadas pelo setor em março. Os dados são da consultoria E-Consulting Corp que em parceria com a Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (Camara-e.net) pesquisa o volume mensal do comércio eletrônico Business-to-Consumer (B2C) realizado no mercado brasileiro, determinando o índice de varejo on-line (VOL).

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Anos-luz separam a evolução do varejo on-line de veículos montados e as vendas eletrônicas de peças e componentes mecânicos, que só aparecem nas esta tísticas de business-to-business. A E-Consulting também elabora um índice trimestral de B2B on-line (B2BOL) no Brasil, medindo o volume das transações entre empresas ocorridas no ambiente digital. A análise é feita desde a ponta de compra (e-procurement) até a ponta de venda (e-sales), abrangendo todas as formas e modelos de transação on-line entre empresas. O B2BOL praticado entre as trinta maiores empresas do País no primeiro trimestre de 2003, e que representa cerca de 90% de toda a movimentação brasileira, alcançou R$ 30,5 bilhões, cerca de R$ 190 milhões ou 0,63% referem-se a autopeças. Do B2BOL total, R$ 34 bilhões (inclui B2B realizado entre e-marketplaces independentes que atingiu R$ 3,6 bilhões) 0,56% referem-se a autopeças. O cenário de B2C é diametralmente oposto ao dos Estados Unidos, onde há mais de 2 mil sites de autopeças em operação. A Web também é o local onde 70% dos distribuidores norte-americanos realizam 80% de suas vendas. A discrepância deve-se a fatores culturais, explica Werner  Odenheimer, gestor do GPE-Grupo de Planejamento Estratégico. "Nos Estados Unidos, a cultura do do it yourself representa um terço do aftermarket. Mesmo as peças vendidas em supermercados, de fácil aplicação, são instaladas por profissionais."


Realidade diferente – Outro fator é a decisão de compra de peças que no Brasil é tomada, na grande maioria dos casos, por mecânicos. Boa parte das oficinas independentes, cerca de 190 mil empresas, são micro, pequenas e médias que não reúnem as condições ideais para transacionar online. O GPE é uma iniciativa conjunta do Sindipeças, entidade que congrega os fabricantes de autopeças, a Andap, que representa os distribuidores, o Sincopeças, do comércio varejista e o Sindirepa, dos reparadores de veículos, criado há dois anos para harmonizar as relações e aumentar a competitividade desse segmento de mercado, que movimenta anualmente cerca de R$ 40 bilhões e gera aproximadamente um milhão de empregos diretos. O Grupo mantém na prateleira o projeto de criar um portal B2B do setor com a participação de todos esses elos, com o objetivo de diminuir os custos de logística para o consumidor final. Para implementá-lo, os participantes precisariam dispor de vários milhões de dólares e, segundo Odenheimer, as empresas não dispõem de recursos. "É um projeto de longo prazo, para daqui a muitos anos", diz . Falta não apenas recursos, mas uma difusão maior da cultura de e-commerce (vendas on-line representam apenas 2% do varejo total) e impedimentos técnicos. Milhares de peças teriam que ser catalogadas e a maioria desses usuários navega em banda estreita (acesso discado). O maior mercado consumidor do aftermarket está longe dos grandes centros e a rede de acesso "banda larga" é limitada e não cobre muitas regiões do Brasil, explica Odenheimer. Além disso, essas empresas precisariam criar uma infra-estrutura logística de distribuição compatível com o sistema. Dados do International Data Corporation IDC Brasil - que elabora estudos de mercado e análises táticas e estratégicas para as indústrias de tecnologia da informação, telecomunicações e Internet confirmam. No fim do ano passado, o País contava com 13,5 milhões de internautas, desses 695 mil eram usuários de banda larga.


Uma alternativa – Mesmo incipientes, há alternativas para comprar e vender peças através da Internet. Uma das pioneiras é o www.pecas-on-line.com.br , um site de busca de peças que coloca o cliente em contato com o comprador e vice-versa, facilitando o encontro da oferta com a demanda. Para Carlos Jorge Freire Antunes, diretor comercial do Sistema Sen (Sistema Integrado do EstoqueNacional), que opera o Peças On Line, o site é uma ferramenta útil para as concessionárias divulgarem seus estoques. Lá, quem quiser comprar algum item, pode encontrar uma imensa variedade com grande facilidade. As dimensões continentais do Brasil, com mais de 5.600 municípios, sendo que grande parte deles não comporta uma autorizada de marca, faz com que o custo de busca e cotação de autopeças seja muito alto. Perde-se tempo e dinheiro, ligando para várias lojas diferentes. A proposta do Peças On Line é simplificar esse processo barateando seu custo. Ao invés de dar dez telefonemas, por exemplo, ao custo de uma ligação local, entra-se no site e faz-se a busca. O sistema é muito simples e o usuário pode procurar a peça de duas formas: através do número de código ou pedindo uma cotação, descrevendo a peça da maneira mais precisa possível, fornecendo o ano/modelo do carro e, se possível, o número do chassi. Isso porque alguns veículos, como o Gol, por exemplo, podem ter sido fabricados em diferentes plantas industriais, como São Bernardo do Campo, Taubaté e Pacheco na Argentina e podem apresentar diferenças sutis nos componentes. O número do chassi é garantia de precisão na busca. Preenchendo os dados, o sistema pesquisa a peça em todos os locais onde ela esteja disponível, assim como as informações das lojas que a oferecem e as quantidades, com a possibilidade de ser vendida em todo o Brasil. As negociações são feitas fora do ambiente do site. A atualização dos estoques é instantânea, já que o site possui um sistema proprietário de atualização. Ao serem enviados, através de um e-mail com arquivo gerado a partir de qualquer planilha de gerenciamento e com a identificação de usuário no sistema, os estoques serão acrescentados na hora ao servidor, possibilitando atualizações em tempo real. As concessionárias podem gerar quantos arquivos quiserem com suas políticas de preços e disponibilidade de produtos, quando e quantas vezes quiserem diariamente, mesmo fora de horário comercial. Podem fazer promoções, por exemplo, e fixar descontos para determinados componentes. O processo de inserção é feito automaticamente pelos servidores, que recebem o estoque, abrem o arquivo, verificam item por item e o disponibilizam no banco de dados. Não há nenhuma intervenção ou qualquer atividade manual. "A performance do sistema faz com que um estoque de 50 mil a 60 mil itens demore apenas um minuto para entrar no banco de dados depois de recebido pelo servidor", garante Antunes.

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Werner Odenheimer, gestor do GPE – Grupo de Planejamento Estratégico.

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Carlos Jorge Freire Antunes, diretor do Sistema SEN.

Muitos benefícios – Segundo ele, 96% das peças procuradas estão expostas no Peças On Line, que recebe 3 mil visitantes por dia. Eles realizam, em média, quatro consultas diárias, o que gera 12 mil peças consultadas. Além disso, o sistema envia 35 mil e-mails/dia com pedidos de cotação para a base de cadastrados no site. Todo dia há ao menos uma cotação, mas a média é de quatro cotações/dia. As vantagens do Peças On Line não param por aí. De acordo com o diretor comercial, o concessionário que utiliza o sistema tem capacidade de negociar um volume maior de peças, em vários mercados diferentes e para mais clientes, com a mesma estrutura que trabalha no balcão. São Paulo detém 36% do mercado de veículos e as consultas do estado representam apenas 10%. "Só é grande quem vende para o Brasil inteiro", diz. Além disso, a Internet é um eficiente instrumento de divulgação de marcas e empresas. Um concessionário que possui cinco ou seis mil itens no estoque é visto 11 mil vezes. A adesão ao Peças On Line é totalmente gratuita. Não custa nada para o distribuidor utilizar mais este canal de vendas. Cerca de 20% das concessionárias existentes no País já descobriram e fazem uso dessas vantagens. São autorizadas Chevrolet, Fiat, Volkswagen, Ford e Mercedes-Benz. Atualizando seus estoques diariamente no sistema conseguem vender mais e reduzir custos administrativos e financeiros. O estoque que não gira é dinheiro parado; tem o custo do capital que já foi investido, mais o custo do metro quadrado mal utilizado e o custo de pessoal para gerir e manter esse estoque em ordem. A Revista Showroom fez um "test-drive" (utilizando uma conexão discada) no site, buscando um cabeçote de motor da Kombi. Ao inserir o número código da peça, 22 concessionárias Volkswagen de todo País foram listadas em poucos segundos. Cada usuário e cada consulta geram uma requisição ao servidor, que monta uma página na hora com os dados solicitados e a envia para browser do usuário. Nada é estático ou a soma de dados passados. Já na busca por discrição, utilizando explicação genérica com as palavras "cabeçote de motor da Kombi" (outro ano/modelo e com o número de código diferente), o sistema não encontra a peça. Mas o link, no fim da página, denominado "Fazer Requisição" abre um formulário tão completo que pergunta até a cor do veículo. No nosso teste, não colocamos número de chassi. O sistema enviou um e-mail confirmando a requisição e pediu para aguardar uma reposta dos parceiros do site. Na seqüência,ao entrar com o código, 61 autorizadas VW foram listadas. O teste foi feito no final da tarde de uma sexta-feira e recebemos quatro respostas na segunda-feira seguinte das concessionárias Princesa Veículos, de Feira de Santana (BA), Reauto, de Contagem (MG), Sovemar também de Minas e da Metrovel Veículos de Canoas (RS).

 

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Competitividade na reposição – A Volkswagen e a Assobrav vêm trabalhando para reduzir o preço das peças para o consumidor final, o que efetivamente aconteceu em setembro de 2002. A redução de preços abrangeu os itens mais vendidos pela fábrica ao concessionário e deste para o consumidor final. A Assobrav pesquisou o comportamento de vendas numa abrangência de 12 meses para detectar o que realmente vende; itens de giro. Peça por peça, a avaliação chegou a um total de 2 mil itens diferentes dentro do portifólio de componentes da fábrica, que é de 55 mil itens. Considerando carros com mais de 10 anos, caminhões e ônibus, esse portifólio chega a 157 mil itens, mas apenas 2 mil encontram mercado no segmento automóveis e comerciais leves, mas o concessionário trabalha com estoque entre 5 e 7 mil itens diferentes. O que a Assobrav recomenda é que cada um faça sua avaliação e programe uma limpeza no seu estoque para reduzir esse volume para de 3 a 4 mil itens, considerados ideais. Assim, um sistema como o Peças On Line é uma ferramenta útil para elevar a venda de peças da rede autorizada, principalmente, as obsoletas ou difíceis de serem colocadas no mercado. Muitos concessionários Volkswagen estão integrados e ativos no Peças On Line. Autorizadas como Carbel, Ceará Motor, Corujão, Panambra, Saga, Sorana Sul e Toriba são alguns exemplos, entre outras. A Ceará Motor, integrante de um Grupo que controla três concessionárias, disponibiliza seu estoque no site Peças On Line desde março e diariamente atualiza seus dados no sistema. Nesse meio tempo vendeu um jogo de capas de pára-choques do Passar Hatch – aquele dos anos 80 – para um consumidor, morador em Cotia, São Paulo. Segundo Francisco de Oliveira Jucá, gerente de pós-venda da Ceará Motor, a adesão é recente e ainda não foi possível detectar um incremento nas vendas, mas garante: "é válido aderir, o sistema é muito bom". A empresa opera com aproximadamente 7 mil itens diferentes em estoque, mas de acordo com Jucá, as peças mais procuradas através do site são peças de veículos fora de linha e a empresa só consegue atender a 5% das consultas que recebe, em média, três por dia. Outro fator limitante é a distância, pois a maioria das consultas é originada de São Paulo, Minas Gerais e da região sul do País. Há cerca de dois anos integrada ao sistema, a VW Sorana Sul, localizada em Taboão da Serra, grande São Paulo, considera que a adesão só trouxe benefícios. Segundo Lauro Guilherme, gerente de pós-venda, a empresa vende muitos componentes de motor para o interior de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, como cabeçotes e virabrequins. Além disso, quando precisa de algo para atendimento interno consulta o sistema para verificar qual concessionário próximo tem a peça e assim atender a seus clientes com maior agilidade. Se o pedido fosse feito à Volkswagen, a peça demoraria 48 horas para chegar. "Dificilmente as peças procuradas não são encontradas", diz Guilherme, "além disso, a empresa fica mais conhecida, o que gera mais movimento". Segundo ele, 99% das vendas são realizadas para outras concessionárias e oficinas de reparação independentes, mas uma maior divulgação do site para os reparadores independentes incrementaria ainda mais as vendas, já que esse é o público que decide a compra. A Sorana Sul trabalha com seis mil itens diferentes e o setor de peças fatura R$ 350 mil por mês. Além do site, a empresa tem uma equipe de venda de peças ativa e um serviço de telepeças.